O Conselho do Doutor Doido
Um rapaz rico e solteiro desejava casar-se e começou a procurar noiva. Um dia mandou preparar sua carruagem e passou por uma rua da cidade. Mandou parar, desceu e entrou numa casa. Saiu uma mulher bonita e agradável.
— Senhora dona, me alcance um copo d’água!
A mulher foi buscar um copo d’água e agradou muito o rapaz que ficou satisfeito. Voltando para casa pensou em casar com ela.
No outro dia foi pedir água numa outra casa e saiu-lhe uma mulher ainda mais bonita e mais agradável. O rapaz ficou contente e achou que devia casar com ela.
No outro dia foi pedir de beber num rancho de palha onde foi servido por uma mocinha muito acanhada e bem parecida. O rapaz ainda gostou mais desta do que das outras. Para decidir procurou o padre vigário e pediu um conselho. O sacerdote disse:
— Vá procurar o Doutor Doido na Cidade Fulana. Ele não presta atenção a ninguém e vive passeando para lá e para cá, numa calçada. Diga o que quer e ouça o que ele disser.
O rapaz tomou sua carruagem e tocou-se para a Cidade Fulana. De tarde um criado do hotel levou-o para a tal rua onde ele viu o Doutor Doido andando para cima e para baixo, falando alto. O rapaz aproximou-se e contou o seu caso.
— Estou querendo casar e achei três mulheres que me agradam. Uma é mulher dama, outra uma viúva e a terceira uma moça donzela. Com quem devo dar a mão de esposo?
O Doutor veio cá e foi lá, e sem parar a marcha, respondeu:
— Quem sempre foi, sempre é. Besta velha não se acostuma em pasto novo! Quem nunca foi, vai-se fazer!
O rapaz tomou a carruagem, voltou e casou com a moça.
Luís da Câmara Cascudo
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