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A Trava do Galo - As Três Fiandeiras

A Trava do Galo

Certa ocasião, um velho bruxo estava realizando magias numa praça, em meio a um grande aglomerado de gente. E mandou que um galo avançasse para o centro; este, muito solenemente, avançou erguendo uma trave grossa e carregando-a como se fosse uma pluma.
Mas, no meio do povo estava uma moça que acabara de achar um trevo de quatro folhas; e se tornara tão esperta que, diante dela, magia alguma produzia efeito. Ela, pois, percebeu logo que a grossa trave não passava de uma palha; então gritou:
- Minha gente, não estais vendo? Aquilo que o galo carrega com tanta facilidade não é uma trave, mas simplesmente uma palha.
No mesmo instante cessou a magia; o povo ficou sabendo que tipo de bruxo era aquele e enxotaram-no como se fosse um cão. Ele, porém, disse, encolerizado: -Eu me vingarei!
Passou-se algum tempo e chegou o dia do casamento da moça. Ela, toda ataviada, vinha pelos campos, acompanhada de grande cortejo; dirigiam-se todos à aldeia onde estava a igreja, para a bênção nupcial.
De repente, chegaram à margem de um regato que encherá muito, quase a transbordar, e não havia ponte nem prancha alguma para atravessá-lo. Então, muito decidida, a noiva suspendeu as vestes e tentou atravessá-lo a vau. Mal, porém, entrou na água, um homem a seu lado, o qual outro não era senão o próprio bruxo, disse ironicamente: -Onde estás com os olhos, para julgar que isto é água?
Então se lhe abriram os olhos e ela viu-se, com a roupa toda erguida, em pleno campo de linho, todo florido de azul.
Os convidados também viram; então caíram na gargalhada, zombando tanto dela, que a coitada foi obrigada a fugir.

Irmãos Grimm

As Três Fiandeiras

Uma moça, bonita e prendada, não encontrava casamento, embora muito merecesse um bom estado. Ia sempre à missa das almas, pela madrugada, e rezava seu rosário para elas. Perto da casa da moça morava um homem rico e solteiro que dizia só casar-se com a melhor fiandeira da cidade. A moça sabendo essa notícia, ia comprar linho à casa do rico, dizendo fiá-lo todo num só dia. O homem ficava pasmado, vendo uma moça tão trabalhadora.

Não dando inteiro crédito ao que ouvia, uma manhã, em que a moça apareceu para marcar um pouco de linho, disse-lhe em tom de brincadeira: moça, se esse linho é fiado num dia, sem entrar pelo serão, leve-o sem pagar e irei ao anoitecer ver sua tarefa.

A moça voltou para casa muito aflita com a promessa porque não podia fiar o linho num dia, nem a metade da porção que trouxera. Pôs o linho nas rocas e começou a chorar, a chorar sem consolo. Quando, estava assim, ouviu uma voz trêmula dizendo:

- Por que chora a minha filha?

Levantou a cabeça e viu uma velha, muito velha, vestida de branco e muito pálida. Contou o que lhe sucedia e a velha disse: vá rezar seu rosário que eu vou ajudá-la um pouco.

A moça foi rezar e quando acabou todo o linho estava fiado e pronto. A velha disse: Se você casar eu virei às bodas e não se esqueça de chamar-me minha tia por três vezes.

A moça prometeu. Quando o mercador chegou e viu o linho fiado, ficou assombrado. Gabou muito a moça e no outro dia mandou, ainda uma porção maior de linho, dizendo que voltaria para ver o resultado. A moça pôs-se a chorar sem parar.

Outra velha apareceu, parecida com a primeira, e fiou o linho num amém, enquanto a moça rezava. e ao despedir-se fez o mesmo pedido que a primeira velha fizera.

Ainda uma vez o mercador visitou a moça e não teve palavras para elogiar o quanto ela fizera num dia. Mandou, de presente, ainda mais linho e o mesmo pedido. A moça voltou a lamentar-se e uma terceira velha apareceu e tudo se passou como de costume, linho fiado e promessa feita,

O mercador veio visitar a moça e pediu-a em casamento, marcando-se o dia. Como um dos presentes de noivado, recebeu a noiva muito linho para fiar, e rocas, fusos, dobadouras e mais apetrechos. A moça estava desesperada com; o 
seu futuro.

Quando acabou de casar, surgiram na porta as três velhas juntas. A moça, lembrada do que prometera, recebeu-as muito bem, tratando-as por tias, oferecendo comida, bebida, assento, e fazendo toda a sorte de agrados e oferecimentos. O noivo não tinha cobro do espanto que lhe causava a feição de cada uma das velhas. Não se contendo, perguntou:

- Por que as senhoras são assim, corcovadas, olhos esbugalhados e queixos para fora? Foi alguma doença?

- Não foi, senhor sobrinho - responderam as velhas - foi o fiar que nos deu essas peças. Ficámos anos e anos e ficámos assim, corcovadas pela posição, olhos esbugalhados de acompanhar o riso, queixos feios pela tarefa com os tomentos.

O noivo não quis mais saber de rocas, fusos e dobadouras. Agarrou tudo e atirou pana o meio da rua, dizendo que jamais sua mulher havia de pegar num instrumento que a faria tão feia.

Viveram muito felizes. As três velhas eram as "alminhas," agradecidas pela devoção da moça.

Irmãos Grimm

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