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Biografia de Machado de Assis

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Com dez anos perdeu a mãe e não completou seus estudos. Ajudando na igreja, recebia aulas de latim com o padre Silveira Sarmento. Na padaria de Madame Gallot aprendia francês. Com 15 anos já ensaiava suas primeiras poesias.
Por falta de condições econômicas da família começou a trabalhar na livraria, tipografia e jornal de Paula Brito. Com 16 anos, publicou no jornal Marmota Fluminense o poema “Ela”, iniciando assim uma longa carreira de jornalista. Em 1856 entrou para a Imprensa Oficial como aprendiz de tipógrafo. Em 1858 começou a escrever regularmente para o Correio Mercantil. Colaborava para os jornais, Marmota, O Espelho, onde se iniciou na crítica teatral, A Semana Ilustrada, entre outros.
Por volta de 1860, Machado de Assis, com 20 anos, já frequentava os círculos literários e jornalísticos do Rio de Janeiro. Ao entrar para o Diário do Rio tornou-se representante do jornal do senado. Em 1864 publica seu primeiro livro “Crisálidas”, uma coletânea de poemas. Em 1967 é nomeado Diretor do Diário Oficial, iniciando sua carreira de funcionário público. Em 1897 foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras.
Tendo se dedicado a quase todos os gêneros literários, escreveu mais de 50 obras, com destaque para os romances e contos, entre eles, “A Mão e a Luva” (1874), “Helena” (1876), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “O Alienista” (1882), “Quincas Borba” (1891), “Dom Casmurro” (1899) e “Esaú e Jacó” (1904). Machado de Assis faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de setembro de 1908.


Textos - Machado de Assis

Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer.


Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.


É melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é tão brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.


Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados. 
Memórias póstumas de Brás Cubas


Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou.


O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta, e, de memória, conservo alguma recordação doce e feiticeira. Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O mais do tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.


Então, se és digna de si mesma, não teima em despertar a lembrança morta ou expirante; não busca no olhar de hoje a mesma saudação do olhar de ontem, quando eram outros os que encetavam a marcha da vida, de alma alegre e pé veloz.

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